Artrite reumatóide: saiba como reconhecer a mais comum doença reumática

A artrite reumatoide é a doença reumática autoimune mais comum e afeta todas as raças ao redor do mundo.

O que é a artrite reumatóide ?

A artrite reumatóide é uma doença autoimune, inflamatória e crônica que afeta principalmente as articulações.

Entende-se como doença autoimune quando o organismo da pessoa acometida produz anticorpos que atacam células e tecidos do próprio organismo, causando sintomas de acordo com o órgão afetado. 

No caso da artrite reumatoide, o alvo principal são as articulações, ocasionando  inflamação (presença de dor, aumento de volume, calor e vermelhidão) principalmente em articulações de mãos, punhos e pés, embora possa também afetar outras articulações como joelhos, tornozelos, ombros e cotovelos.

Quem pode ter artrite reumatóide ? 

Mulheres são mais frequentemente afetadas (cerca de duas vezes mais em comparação aos homens). 

Inicia-se frequentemente aos 30 – 40 anos e sua frequência aumenta com a idade, variando de 0,3% em indivíduos abaixo dos 35 anos a até 10% em pessoas com mais de 65 anos.

Qual a causa da artrite reumatoide?

São vários os fatores que são relevantes para o desenvolvimento da doença. Dentre eles, destacam-se:

1. Fatores genéticos: presença de alterações específicas de predisposição genética como o epitopo compartilhado
2. Fatores ambientais

• tabagismo
• periodontite
• infecções 
• alterações do microbioma intestinal

3. Fatores imunológicos: perda da chamada tolerância imunológica em que o sistema imune (sistema de defesa), começa a produzir anticorpos que atacam o próprio organismo (células e tecidos) 

Os fatores ambientais, em uma complexa interação com os fatores genéticos (genes) e fatores imunológicos, podem levar ao desencadeamento dos fenômenos de autoimunidade, desenvolvimento de anticorpos específicos da artrite reumatóide e consequente inflamação articular ou de outros órgãos alvo. 

A artrite reumatoide afeta apenas as articulações? 

A artrite reumatóide pode afetar também outros órgãos o que frequentemente denomina-se de manifestações extra articulares. Tem especial importância as seguintes: 

• Pele: nódulos reumatóides ocorrem frequentemente em cotovelos e superfícies articulares. Tem relação com a atividade da doença e indicam doença mais grave. Costumam reduzir de tamanho e até desaparecer com o tratamento. 
• Pulmões: pode ocorrer fibrose pulmonar em que há comprometimento da capacidade respiratória devido ao envolvimento inflamatório dos pulmões. Causa tosse seca crônica e falta de ar. Pode também ocorrer derrame pleural (água no pulmão) ou nódulos visualizados em radiografias ou tomografias. 
• Olhos: pode ocorrer olho seco e manifestações inflamatórias oculares que causam olho vermelho (esclerite e episclerite). Se não tratadas, podem evoluir com graus variados de comprometimento da visão.
• Sistema nervoso: são comuns as manifestações decorrentes da compressão de nervo secundária a inflamação articular como síndrome do túnel do carpo que é uma causa frequente de dor e formigamento em mãos. 
• Ossos: devido a atividade inflamatória que ocorre na artrite reumatoide é comum a ocorrência de osteoporose, detectada geralmente através da densitometria óssea. Deve-se sempre estar atento a prevenção e tratamento da osteoporose nos pacientes com artrite reumatoide a fim de prevenir a ocorrência de fraturas. 

A artrite reumatoide causa deformidades? 

Se não for adequadamente tratada, a artrite reumatóide gera deformidades articulares irreversíveis que causam inúmeras dificuldades funcionais e laborais. Além disso, as deformidades causam prejuízo estético e perda da autoestima. 

São deformidades decorrentes da artrite reumatoide: 

• dedo em pescoço de cisne 
• Dedo em botoeira 
• Polegar em Z 
• Desvio dos dedos 

Quais as consequências sociais da artrite reumatoide? 

Estudos mostram que 32 a 50% dos pacientes com artrite reumatoide deixam de trabalhar após 10 anos da doença, levando à redução de recursos financeiros do paciente, com impacto negativo na renda familiar.

Além disso, a incapacidade laboral frequentemente leva à perda de autoestima e à depressão pois o trabalho não tem apenas finalidade de trazer recursos financeiros, mas também atua na sociabilização e integração do paciente na sociedade. 

Como é feito o diagnóstico da artrite reumatóide? 

Para o diagnóstico o médico deve avaliar criteriosamente as queixas do paciente, proceder o exame físico cuidadoso, a fim de procurar por articulações com edema (inchaço) ou dor e analisar exames complementares  

O diagnóstico deve ser considerado em todo paciente que apresente envolvimento de mais de 4 articulações, particularmente quando presente nos dois lados do corpo e acompanhado de rigidez articular (dificuldade de movimentar a articulação) pela manhã superior a 30 minutos.

É de fundamental importância o achado de artrite no exame físico. Pode também ser necessária a solicitação de ultrassonografia ou ressonância das articulações para detectar a inflamação articular. Além disso, o achado de marcadores imunológicos (auto-anticorpos: fator reumatóide e anti-CCP) e marcadores de inflamação (velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa) reforçam o diagnóstico. 

Quando o tratamento da artrite reumatoide deve ser iniciado? 

O tratamento deve ser iniciado o quanto antes pois quanto mais cedo  melhores são as respostas às medicações e menores são as chances de desenvolvimento de  deformidades articulares e, portanto, incapacidade física.

Como é o tratamento da artrite reumatoide ? 

 O tratamento deve incluir a educação dos pacientes e familiares sobre a doença, o uso de medicamentos específicos, terapias físicas (fisioterapia, terapia ocupacional) e, quando necessário, infiltrações intra-articulares e procedimentos cirúrgicos. 

A escolha dos medicamentos deverá levar em conta recomendações baseadas em evidências científicas, dados de custo-efetividade e a decisão compartilhada com o paciente. 

Geralmente a droga inicial de escolha é o metotrexato. Em casos de falta de resposta, pode- se associar ou trocar a medicação. 

Nesse contexto podem ser escolhidos a leflunomida, os inibidores de JAK ou as medicações biológicas, a depender dos fatores individuais de cada paciente. 

Qual objetivo do tratamento da artrite reumatóide ?

O objetivo do tratamento da artrite reumatóide é o controle da doença, ou seja, atingir a remissão ou baixa atividade. A atividade da doença é avaliada usando índices específicos que analisam o número de articulações dolorosas e edemaciadas, as provas de atividade inflamatória e a percepção individual do paciente. Um dos índices mais utilizados no Brasil é o DAS28 e habitualmente é realizado durante a consulta médica. 

Com o tratamento, o paciente deve ficar sem dor articular, capaz de realizar suas atividades da vida diária sem limitações e sem dor.

Quanto tempo dura o tratamento da artrite reumatóide? 

O tratamento da artrite reumatóide não tem uma duração exata. Considerando se tratar de doença incurável e de curso crônico, o tratamento dura muitos anos. Uma vez atingida a remissão da doença por pelo menos 6 meses, pode-se considerar reduzir o número de medicações utilizadas ou até o espaçamento da medicação. Porém, a suspensão completa do tratamento frequentemente leva a reativação dos sintomas da doença, após período variável de tempo que pode ser de alguns meses a anos. O espaçamento ou até mesmo a suspensão das medicações devem ser avaliados de forma criteriosa e individual. O paciente deve seguir em acompanhamento médico com reumatologista e, se necessário, o tratamento deverá ser reiniciado.

Referências:

1- Rheumatoid arthritis. Nat Rev Dis Primers. 2018 Feb 8:4:18001. doi: 10.1038/nrdp.2018.1. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29417936/

2- Global epidemiology of rheumatoid arthritis. Nat Rev Rheumatol. 2022 Oct;18(10):591-602. doi: 10.1038/s41584-022-00827-y. Epub 2022 Sep 6. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36068354/